Dispepsia

fragmentos que dão novo sentido ao espaço urbano

iVisca!

A Element, importante marca ligada à cultura do skate, lançou no ano passado o documentário iVisca! – Element Tour Spain, acompanhando três skatistas profissionais patrocinados pela marca (Roger Mancha, Klaus Bohms e Lucas Xaparral) durante alguns dias em Barcelona, na Espanha.

Além das próprias manobras e da trilha sonora, composta por bandas alternativas brasileiras como Constantina, Fóssil e Parteum, a relação entre o skate e o espaço urbano é um dos destaques do vídeo (o principal destaque, no meu ponto de vista).

O skate talvez seja o esporte com relação mais forte com as cidades, o espaço urbano, e seus praticantes fazem novas releituras da arquitetura urbana. O interessante no vídeo é perceber como os moradores mais antigos de Barcelona se sentem ofendidos ao verem os skatistas dando um novo sentido para essa arquitetura, relacionando-se com o espaço de uma forma diferente da qual os moradores locais estão acostumados. Isso demonstra não apenas os sentimentos de propriedade e pertencimento resultantes dos laços estabelecidos entre as pessoas e determinados espaços físicos marcantes em nossas vidas como também deixa claro um certo vício em se aceitar o espaço público como um ambiente estéril e intocável, não como se fosse um espaço de todos, mas de ninguém, no qual nenhum de nós tem autonomia para interferir.

O download de iVisca! pode ser feito no site da Element.

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Diesel XXX e a cultura do remix: como reutilizar a pornografia à serviço da publicidade

Uma das imagens da campanha

Um dos assuntos que mais circulou pela internet esta semana foi a ação de marketing viral da grife Diesel para divulgar suas festas intituladas Diesel XXX. A campanha utiliza vídeos e fotos pornográficas retrabalhadas com desenhos que encobrem seus elementos sexuais explícitos, deixando ao espectador a tarefa de reconstruir as situações originais em que as imagens foram feitas (algo bem fácil, analisando a natureza das imagens e as “poses” dos “modelos”). A campanha ainda brinca com o termo Safe For Work Porn (algo como “pornografia segura para ver no trabalho), criando um site especial para reunir as imagens.

A ação da Diesel dá visibilidade a algo cada vez mais comum em outros meios, como a música e a fotografia, nos quais a chamada cultura do remix tem muitos adeptos e crescente visibilidade. Trata-se de se apropiar de algo criado previamente por outra pessoa e juntá-lo a outras obras, modificando seu sentido original de forma que o resultado final seja uma nova obra.

Nas ruas, é comum a utilização de stencil e stickers nos quais fotografias são retrabalhadas para criar novo sentido (na maioria dos casos, de modo cômico ou relacionado ao ativismo político). Na música, álbuns inteiros são criados apenas com o uso de trechos de outras músicas. E na fotografia há uma longa tradição na utilização de colagens de imagens diversas.

O que ocorre atualmente é que a cultura digital potencializa o surgimento de novas obras derivadas de outras pré-existentes porque torna fácil a manipulação do conteúdo, seja ele áudio, vídeo ou imagens estáticas.  Ao abolir a necessidade de conhecimento técnico para a manipulação das obras a cultura do remix aflora e demonstra que nada termina em si mesmo. Tudo pode ser retrabalhado e transformado em algo novo.

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